Decisão de Huck sobre a Presidência depende também de Angélica

Publicado em: 16/11/2017

Luciano Huck tem até o fim do ano para decidir se entra na corrida pelo Planalto. Quem torce por sua candidatura enxerga nas últimas pesquisas o potencial para construir uma coalizão pluriclassista entre mercado financeiro e classes C, D e E. Enxerga, ainda, um nome para arrancar votos de Bolsonaro no Sul-Sudeste e de Lula (ou de seu indicado) no Nordeste.

Nos próximos dois meses, porém, a decisão de concorrer depende tanto de Luciano quanto de Angélica, sua esposa. O motivo disso não se limita ao impacto de uma campanha na vida da família ou ao fato de ela ter de sacrificar seu espaço na televisão. Há algo mais importante em jogo.

Angélica é um dos principais ativos políticos de uma eventual candidatura Huck. Sua projeção independente junto ao eleitorado tem valor inestimável para uma campanha que, apesar de ter dinheiro, pode terminar com pouco tempo de propaganda oficial na televisão.

Além disso, Angélica tem ideias próprias sobre assuntos-chave da agenda pública e entende bem de comunicação para quem constitui o eleitorado. Numa corrida na qual os costumes prometem estar no topo da lista de preocupações do eleitor, esse conjunto de habilidades e competências faz toda a diferença. A candidata a primeira-dama pode terminar assumindo um papel próprio na batalha de ideias que será inevitável quando MBL, bolsominions e coletivos de esquerda puserem seus respectivos bondes na rua.

Mais do que qualquer outra candidatura nesse ciclo eleitoral, esse projeto político demandará trabalho em dobradinha por parte do casal.

No presidencialismo americano, há quatro casos notáveis de parceria matrimonial na busca pela Casa Branca: Eleanor Roosevelt, Lady Bird Johnson, Hillary Clinton e Michelle Obama. As quatro foram decisivas no tom e orientação dos meses de campanha. Já empossadas, transformaram o cargo de primeira-dama em centro de gravidade autônomo, tocando uma agenda substantiva para reforçar o governo e pôr os adversários na defensiva.

No caso brasileiro, a única experiência pregressa é a de Ruth Cardoso. Sua influência foi muito além dos programas que tocou nos anos da Presidência. Seu papel nas campanhas de Fernando Henrique permanece tão desconhecido quanto subestimado. Angélica pertence a essa rara categoria, em que valham as diferenças entre ela e a ex-primeira-dama.

Não sendo recatada ou do lar, e tendo uma vida pública independente daquela do marido, Angélica cumpriria uma função única na engenharia da campanha. Processo idêntico ocorreria em caso de vitória. Por esse motivo, a decisão da casa Huck nas próximas semanas não depende apenas da vontade do marido.

 

Coluna Matias Spektor – Folha de São Paulo

 

 




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